Stef Stienstra
Introdução: A leishmaniose é uma doença transmitida por vetores causada por protozoários intramacrófagos obrigatórios da espécie Leishmania. A leishmaniose pode causar diferentes síndromes clínicos, incluindo a leishmaniose cutânea (LC), em que o doente apresenta geralmente uma ou mais úlcera(s) ou nódulo(s) na pele, resultantes da infeção de células fagocíticas localizadas na derme. Muitas vezes resulta em tecido cicatricial grave na pele. A maioria dos doze milhões de pessoas infetadas com Leishmania em todo o mundo são casos de LC, 1,5 milhões de novos casos ocorrem anualmente.
Objectivo: A OMS tem um programa para desenvolver novos tratamentos para a leishmaniose cutânea. Este estudo estabelece uma prova de conceito de que um dispositivo de tatuagem pode ter como alvo a administração intradérmica de medicamentos contra a leishmaniose cutânea (LC).
Métodos: O medicamento selecionado é a oleilfosfocolina (OlPC) formulada sob a forma de lipossomas, partículas conhecidas por serem propensas à ingestão de macrófagos. Primeiro é demonstrado que o tratamento de macrófagos infectados por Leishmania em cultura com lipossomas OlPC resulta numa morte directa dependente da dose de parasitas intracelulares. Com base nisto, a eficácia in vivo é demonstrada utilizando um tratamento mediado por tatuagem de 10 dias em ratinhos infetados com L. major e L. mexicana. Em ambos os modelos, este regime resulta numa rápida recuperação clínica com regressão completa das lesões cutâneas até ao dia 28. A contagem de parasitas e o exame histopatológico confirmam a elevada eficácia do tratamento ao nível parasitário. A baixa quantidade de medicamento necessária para a tatuagem combinada com a rápida recuperação clínica pode ter um impacto positivo na gestão do doente com LC.
Resultados: Este primeiro exemplo de administração de fármacos mediada por tatuagem poderá abrir novas intervenções terapêuticas no tratamento de doenças de pele. Este estudo demonstra que a utilização de um instrumento de tatuagem para a administração de fármacos é possível no tratamento da leishmaniose cutânea, e que este método pode eliminar com sucesso os parasitas intracelulares no local da infecção. Depois de mostrar que o fármaco selecionado oleilfosfocolina (OlPC) formulado como lipossomas podia atingir eficientemente os parasitas intracelulares quando em contacto com macrófagos infetados, a atividade do fármaco foi comparada in vivo em modelos de ratinhos do antigo (L. major) e do novo mundo ( L. mexicana) leishmaniose. Foram investigadas três vias de administração da mesma formulação medicamentosa: administração sistémica (IP), administração tópica em gotas e administração via instrumento de tatuagem. Os parâmetros de avaliação incluíram parâmetros clínicos (tamanhos das lesões) e parasitológicos (cargas) utilizando métodos quantitativos e qualitativos. Em todas as experiências, o procedimento de administração da tatuagem foi o mais eficaz tanto a nível clínico como parasitológico.
Nota: Este trabalho foi apresentado na 8ª Edição da Conferência Internacional sobre Doenças Infecciosas, de 07 a 08 de junho de 2018, Londres, Reino Unido